Você já deve ter ouvido falar que a vida passa rápido, né?
Talvez dos seus pais, dos seus avós…
Ou somente de alguém mais velho que você.
Quanto mais o tempo passa, mais eu sinto que isso é verdade.
Quando olho pra trás e me lembro de alguns momentos da minha infância, mas também do começo da vida adulta, vejo que vivi muitas coisas boas.
Momentos que não voltam mais.
Mas se tem algo que quase não tenho, é arrependimento.
Eu sei que o começo dessa carta foi sobre se arrepender por deixar as coisas para depois.
E é sobre isso que quero falar hoje.
Eu não me arrependo de quase nada, apesar de ter sido um baita procrastinador por grande parte da minha vida.
Se eu não tivesse tudo que fiz até hoje, não estaria onde estou.
Não teria levantado depois de cair tantas vezes.
Não teria aprendido a preparar o terreno para as próximas vezes que eu for cair.
Porque eu sei que vou, sou ser humano.
E, como falei…
Não me arrependo das coisas que fiz e que me trouxeram até onde estou.
Me arrependo somente das coisas pontuais que não fiz.
Das coisas que decidi deixar para fazer depois, mas que nunca fiz.
Daquela viagem sozinho que me prometi fazer para me conhecer melhor, mas não tive a coragem.
Da montanha-russa Sheikra da Disney que só tive uma oportunidade e desperdicei por medo.
Do tempo que não passei a mais com minha bisavó antes dela partir.
Daqueles cursos que comprei para mudar de vida e nunca cheguei a terminar e botar em prática.
Pior, tem até aqueles cursos que nem cheguei a começar.
Você provavelmente já fez isso também, né?
Mas isso foi no passado.
E agora? Será que não tem algo que você está deixando para depois e que, possivelmente, irá se arrepender?
Eu, com certeza, tenho.
Me arrependo, diariamente, do tempo que não passo com meus pais, enquanto eles ainda estão aqui.
Tem várias outras coisas.
Mas essa é a que mais me toca, porque a vida inteira tentei me afastar ao máximo deles.
Não acho que tenha sido pela rebeldia de ser o filho único mimado e inconformado.
E sim pelo medo de perdê-los e doer demais.
Louco, né?
Afinal, eu deveria passar mais tempo com eles enquanto posso…
Mas, por algum mecanismo de defesa, eu me afastei, e me afasto, para não criar laços tão fortes e ser ainda mais doloroso quando eles se forem.
Tô aqui abrindo meu coração com você…
Acho que só falei disso com minha namorada e na terapia.
E por que eu tô falando tudo isso?
Porque, além de ser uma carta, em que posso colocar um pedaço de mim através da escrita, também é minha tentativa de te tocar.
Tocar no seu sentimento.
Onde dói, mas onde também existe amor.
É aí mesmo.
Nesse lugarzinho que você sabe que existe mas muitas vezes ignora.
E é nesse lugar que você precisa procurar força, mesmo quando acha que não tem.
Mesmo quando sua cabeça está gritando para você deixar as coisas para depois…
Mesmo quando sua cabeça está dizendo que seu corpo precisa de descanso…
É nesse lugar que você vai procurar por acolhimento.
E é nesse lugar que você vai encontrar motivos para continuar.
Hoje e agora.
Não depois.
Não deixe para depois.